terça-feira, 6 de abril de 2010

Carros e custos

Está chegando a hora de eu ter um carro. Claro, primeiro preciso passar na prova prática de direção, o que não aconteceu nas últimas (pasmem!) quatro vezes que tentei. Eu queria ganhar uma medalha - aqueles que o pessoal da ALERJ distribui para os amigos - por grande contribuição ao patrimônio do DETRAN. Já doei uma quantidade de dinheiro absurda para eles e para duas auto-escolas aqui do Rio.

Me preparando para isso, me fiz duas perguntas:

[1] Quanto custa *ter* um carro? Entenda "ter" como comprar, usar e vender.

[2] Qual é o melhor ano para se vender um carro, em termos de investimento? Essa é mais difícil.

Nesse post, vou tentar responder a primeira. É essencial que você baixe essa planilha.


Quanto custa ter um carro?

Eu acho que existem duas maneiras interessantes de responder essa pergunta: quanto se gasta por ano para ter um carro e quanto se gasta no total para ter um carro. E não, o gasto total não é o gasto anual vezes o número de anos.

O custo de um carro está relacionado a diversas coisas: aos preços de venda e de compra, aos impostos, ao combustível, à manutenção, ao custo de oportunidade do capital e a gastos extras, como estacionamento. Os impostos são o IPVA e o seguro. Procurando referências na internet sobre o assunto, me deparei com vários casos em que o autor do estudo considerava que o valor do IPVA e do seguro eram despesas fixas - que não mudam a cada ano. Da mesma forma eram considerados o custo de oportunidade e os gastos com manutenção.

Essa é uma abordagem errada para o problema de estipular as despesas que um carro gera. A rigor, só é possível determinar o custo anual de um carro após considerarmos nas contas seu valor de venda. Usando conceitos básicos de finanças, trazemos a valor presente as despesas e a receita (venda do carro) que surgiram ao longo de todo o processo e calculamos o custo anual equivalente daquele investimento (ter o carro).

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Nesse ponto, vale a pena explicar o que significa trazer a valor presente. E para explicar, vale a pena contar aquela historinha. João vai ganhou R$1000,00 na raspadinha (não fique triste se você só consegue ganhar outra raspadinha) e investiu tudo na poupança. Ao fim de um ano, ele tinha R$1080,00 (8% de retorno). Então podemos dizer: para o João, ganhar R$1000,00 agora ou ganhar R$1080,00 após um ano é a mesma coisa. Assim, para o João, o *valor presente* de R$1080,00 *daqui a 1 ano* é igual a R$1000,00.

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Encarando um carro como um investimento, nós nos deparamos com vários fatores que complicam a conta. Além de as despesas ocorrem em momentos diferentes (o que nos leva a ter que calcular o valor presente delas), essas despesas ocorrem em intensidade diferente. À medida que um carro envelhece, sua desvalorização, seu IPVA e seu seguro diminuem, mas os gastos com manutenção e combustível aumentam. Não bastasse, todos os gastos dependem do local e da pessoa que possui o veículo: o IPVA depende do estado de origem do veículo; o seguro depende da seguradora e da idade do motorista; os gastos com combustível e outras particularidades dependem da vida que o motorista leva.

Levando em conta tudo isso, duas coisas podem prejudicar um estudo:

[1] encarar quase todos os custos como fixos
[2] ignorar a receita que a venda do carro trás. Esse é o erro que vi com mais frequência nas análises que li. Quando o estudo considerava a desvalorização do carro, em geral essa desvalorização era encarada como um custo fixo, que se repetia sem mudar a cada ano, enquanto na verdade é um custo que diminui a cada ano.

Fiz uma planilha no Excel, com campos que podem ser ajustados para que os resultados possam ser obtidos a partir das características do investimento de cada pessoa. As colunas que respondem a pergunta de hoje são a "VPL Total" e a "AE", que correspondem, respectivamente, a Valor Presente Líquido e Anuidade Equivalente (custo anual).

Para esclarecer o uso da planilha, vamos usar um exemplo.

[1] Área de dados que o usuário preenche com seu perfil:



[2] A saída gerada pelo programa:


[3] A coluna "Total" ou "Quanto eu gastei no total?"

A coluna "Total" relaciona a cada ano quanto o investimento *ter o carro até aquele ano* significa *perder hoje*. Lembre-se de que "ter" é comprar, usar e vender. De outra forma, essa coluna soma todos os custos de "ter" o carro, mas ela considera o momento em que o custo surgiu para soma-lo: quanto mais tarde ele surge, menos penoso ele é para o seu bolso.

Segundo a tabela, comprar um carro por R$42.000 e vendê-lo dois anos depois, pagando todas as despesas, equivale a perder, hoje, R$31.998,85. Só para deixar claro: isso indica que, depois de vender o carro, pagar impostos e outras despesas, você saiu com um prejuízo X no ano 2. Esse prejuízo X no ano 2 é equivalente a um prejuízo de R$31.998,85 hoje - ou o *valor presente* do prejuízo X daqui 2 anos é o mesmo de um prejuízo de R$31.998,85 hoje.

[4] A coluna "AE" ou "Vem cá, o que eu gastei no total equivale a gastar quanto por ano?"

Ratificando, nós não podemos simplesmente somar despesas e receitas, dividir o total pelo número de anos e dizer que gastamos o resultado dessa conta por ano, porque o dinheiro entrou e saiu em vários momentos distintos e isso faz toda a diferença. A "AE" é a resposta da pergunta em [4].

No nosso exemplo, a AE do ano 5 é R$13.559,11. Isso quer dizer que fazer o investimento "ter o carro durante 5 anos" foi equivalente perder, a cada fim de ano (num total de 5), R$13.559,11.

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Espero que isso tenha te ajudado. Post que vem eu falo sobre o melhor ano para vendermos o veículo. Agradeço suas críticas.

7 comentários:

Marina disse...

Desisti de comprar um carro pra sempre! Gastei dinheiro com a auto-escola a toa!
Ah! Agora entendi! É a sua vingança contra o detran!

Anônimo disse...

Seja feliz,tenha carro antigo!!

Um carro com mais de 15 anos,não paga IPVA.É um mito achar que carro antigo é carro velho.Vc pode ter um antigo estiloso e bem cuidado.E as vezes,a manutenção sai até mais barata.Com o uso de GNV então é uma maravilha.

Rafael Felgueiras disse...

1000 + 8% = 1080

Anônimo disse...

eh issu ae rafael. ja ia comentar issu =]

Anônimo disse...

"Neguinho" só fala em custo... esquece que com o carro dá maior comodidade... não paga mais táxi... ônibus... sem contar que dá mais liberdade para viajar... esses gastos que "o caboclo" tinha antes, ele esquece... tem que descontar o que gastava de transporte antes... Ou andava de "pevete"?

Pedro Lazéra Cardoso disse...

Opa, Rafael, valeu pelo correção. Já vou fazer essa modificação.

Sobre a comodidade: isso é óbvio - todo mundo que tem carro sabe como isso é cômodo e aproriado em muitas situações. Por isso não mencionei.

Anônimo disse...

Perae, não deve ter só pontos negativos, inclui aí uns pontos positivos, pleaseee, rs, tá desanimando as pessoas assim, rs.